terça-feira, 1 de setembro de 2009

A matemática e os mendigos

Para convencer o marido a abandonar o vício, dona Marta fez tudo. Tomou até aulas particulares de matemática e estatística. Quando falou a frase fatídica, “Precisamos ter uma conversa séria”, ela já estava se sentindo expert em análise combinatória e cálculos de probabilidade.

Começou de leve:
- Meu bem, você já calculou seus gastos mensairs com a loteria?
- Eu sei... eu sei... – ele respondeu, lacônico. – Mas um dia você vai ver, um dia eu ganho!
Marta quase gritou “chega dessa conversa!”. Mas se controlou e respirou fundo. Desta vez precisava usar argumentos racionais.
De nada adianta, combater um vício com apelos emocionais.

- Sabe o que é, meu bem? Eu estive estudando e pesquisando nos últimos meses.

- Pesquisando? – ele fez a careta mais estranha dos trinta anos de casamento.

- É. Você sabia que a chance de alguém ganhar na Mega-sena é cerca de uma em cinqüenta milhões de apostas?

Ele deu de ombros.

- Querida, você está esquecendo uma coisa: toda semana eu jogo os mesmos números, 2, 5, 16, 25, 33 e 37. Mais dia, menos dia, esses números vão ser sorteados.

- Você está redondamente enganado. Segundo a matemática, a chance de saírem exatamente estes números é mínima, quase impossível.

- Por quê? Por que logo os meus números? O que você tem contra os meus numerozinhos? O que a matemática tem contra eles!

- Absolutamente nada. – Marta manteve a frieza. – Os seus números têm a mesma chance mínima de qualquer outra combinação de seis número. É matemática pura.

Ele já estava começando a ficar com medo da conversa. Não sabia conversar com a esposa naqueles termos. Será que ia terminar em pedido de divórcio?

- Seja direta. O que você está querendo me dizer?

Marta jogou os cabelos pra trás e abriu um sorriso compreensivo.

- Imagine uma coisa: você jogaria os números 1, 2, 3, 4, 5 e 6?

- Claro que não. Vê se algum dia vai sair, 1, 2, 3, 4, 5, 6, em seqüência? Ia ser muita coincidência.

- Pois é isto o que eu estou querendo te mostrar. Essa seqüência tem exatamente a mesma chance de sair do que os seus queridos 2, 5, 16, 25, 33 e 37. O Vicente me explicou isso nos mínimos detalhes.

- Que Vicente é esse? Você quer divórcio?

- Calma, calma. Vicente é o professor de matemática que eu contratei pra me ajudar. Pode ficar tranqüilos ele, ele tem 21 anos.

- 21? Pirou!

- Ô, meu bem, deixa disso. Eu só escolhi o Vicente porque me garantiram que ele sabe tudo de estatística.

- Parabéns pra ele! Pode ligar pra esse cara e dizer que eu vou continuar jogando os mesmo números.

E não é que ela ligou mesmo?

- Vicente, é a Marta. Eu preciso de um favor seu. Repita para meu marido tudo o que você me explicou.

O marido pegou o fone com má vontade.

- Saiba de uma coisa, rapazinho!.. O quê?... Sei... sei... sei... jogando fora... sei... mendigos?... é mesmo?...

E desligou, vermelho sem graça

- O Vicente disse que estou jogando dinheiro fora!

- Eu não te disse? Agora você acredita?

- Pode ser. Mas sabe que esse rapaz me disse uma coisa bem interessante? – o marido começou a abrir um sorriso. – Ele já te falou da teoria dos mendigos?

- Mendigos? – ela estranhou. – Que história é essa?

- Segundo o Vicente, seria melhor eu pegar esse dinheiro da Mega-sena e entregar pros mendigos na rua. A chance de um deles ser um milionário disfarçado e me dar um milhão de reais é maior do que a chance de saírem os meus números. Interessante, não é?

Desde aquele dia, ele passou a sair de casa com o dinheiro da loteria e dar tudo de esmola para os mendigos no passeio público. Mas não todos os mendigos, evidentemente. Apenas o 2º, o 5º, o 16º, o 25º, o 33º, e o 37º mendigo que apareciam no caminho.

2 comentários:

  1. Uma das crônicas que mais chamam a atenção neste livro, e mostra um homem que é viciado em loteria, que ainda é um caso pequeno se comparado aos grandes jogadores dos cassinos, que perdem tudo que têm em apostas. A crônica é engraçada e traz esta crítica no meio, comparando chances de uma seqüencia de números sairem com os mendigos qe podem ser milionários e dar dinheiro ao jogador de loteria.

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  2. fala da mania das pessoas de apostar mesmo sabendo q as chances de ganhar são poucas elas continuam tentando pensando q o dnheiro gasto é pouco, mas com o tempo muito dinheiro vai embora.

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